Ataque garimpeiro deixa um Yanomami morto e dois feridos; PF investiga o caso

Ataque aconteceu neste sábado (29/4) na comunidade Uxiu, dentro do território Yanomami, afirma liderança indígena. A vítima fatal foi atingida na cabeça

      Yanomami sendo socorrido para hospital de Boa Vista (RR)

Roraima/RR - A Polícia Federal abriu investigação e, neste domingo (30/4), enviou agentes para a comunidade em que indígenas foram atacados a tiros ontem, sábado (29/4), na Terra Indígena Yanomami. Um morreu e dois ficaram feridos. O Ministério dos Povos Indígenas afirma que garimpeiros foram os responsáveis pelo ato criminoso.

Os agentes foram enviados ao local do conflito com apoio da Força Aérea Brasileira e Fundação Nacional dos Povos Indígenas. O intuito é "investigar o ocorrido e de interromper eventuais agressões que ainda estivessem em andamento."

Durante as diligências, segundo a PF, foram apurados indícios dos crimes cometidos contra os indígenas, testemunhas foram ouvidas, e foi feita a perícia no local de crime. Agora, aguarda a elaboração dos respectivos laudos e relatórios para prosseguimento das investigações.

O Ministério da Justiça e Segurança Pública disse que "outras diligências seguem em andamento para a identificar, localizar e prender os autores dos crimes, enquanto as ações de desintrusão dos invasores das terras indígenas continuam no âmbito da Operação "Libertação".

Nesta segunda-feira (1º/5), segundo o Ministério, uma comitiva chega a Roraima para apurar o caso. Integram a equipe a ministra da Saúde, Nísia Trindade, o secretário Nacional de Segurança Pública, Tadeu Alencar, o diretor da Força Nacional, coronel Fernando Alencar, e o diretor de Amazônia e Meio Ambiente da Polícia Federal, Humberto Freire.

As vítimas são indígena Yanomami, de 36 anos, que morreu, e outros dois, de 24 e 31, que estão feridos. O ataque na comunidade Uxiu, dentro da Terra Indígena Yanomami, na tarde desde sábado. Os dois feridos foram removidos à capital Boa Vista na manhã deste domingo.

As três vítimas foram baleadas por garimpeiro que atuam na região, informou o presidente Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kwana (Condisi-YY), Júnior Hekurari Yanomami.

Eles foram socorridos de Uxiu por equipes que atuam em Surucucu, onde há uma unidade de referência em saúde, por volta de 15h30 desse sábado.

Ferido gravemente na cabeça, Ilson Xiriana chegou à unidade desacordado, não resistiu e morreu às 5h33 deste domingo. Ele atuava na região como agente indígena de saúde (AIS).

"A equipe de saúde trabalhou muito a noite inteira. Ele teve cinco paradas cardíacas, foi reanimado, mas na madrugada não aguentou e morreu. Os outros dois foram levados para Boa Vista", informou.

Os garimpeiros, segundo as primeiras informações recebidas por Hekurari, chegaram à comunidade Uxiu e abriram fogo. "Alguns estavam encapuzados", afirmou ele, com base no relato de um dos feridos.

O secretário de Saúde Indígena - órgão ligado ao Ministério da Saúde, Weibe Tapeba, disse ter acionado os ministros responsáveis por questões indígenas para apurar o caso.

"Tomamos o conhecimento já na manhã de hoje, que entre os três feridos, um indígena veio a óbito. O mesmo era agente indígena de saúde. Estamos em contato com a Ministra Nísia Trindade, Ministra Sônia Guajajara e Presidenta da Funai, Joênia Wapichana para tratar do caso. Os ministros Flávio Dino e de Direitos Humanos, Silvio Almeida, também já foram acionados", informou Tapeba via seu perfil no Instagram.

Situação dos feridos

Quando chegaram na comunidade, a equipe de saúde encontrou Ilson Xiriana alvejado do lado direito da cabeça e desacordado.

O jovem de 24 anos levou dois tiros no abdômen e estava com sangramento constante. O outro ferido, de 31, foi atingido com dois tiros no abdômen, dois na perna e vomitava bastante. Além disso, a equipe identificou ferimento na lombar.

Segundo Hekurari, o corpo de Ilson Xiriana foi transportado à capital para que a Polícia Federal possa fazer perícia.

Garimpeiros na Terra Yanomami

Alvo há décadas de garimpeiros ilegais, a Terra Yanomami, maior território indígena do Brasil, enfrentou nos últimos o avanço desenfreado da atividade ilegal no território. Em um ano, a devastação chegou a 54%.

A presença de garimpeiros leva ao território a destruição ambiental, insegurança, causa conflitos armados e impacta, principalmente, na saúde dos indígenas. Atualmente, o território enfrenta uma grave crise sanitária e humanitária devido ao avanço do garimpo ilegal e desassistência do governo federal, com dezenas de indígenas doentes com malária, desnutrição e verminose.

Na tentativa de frear e combater o avanço do garimpo, o governo do presidente Lula (PT) deflagrou operação conjunta contra os invasores. Dentro do território, agentes do Ibama, Funai, Força Nacional e PF atuam com ações de enfrentamento, queimando aeronaves e apreendendo materiais de suporte para a vasta logística de garimpeiros.

Enquanto isso, também são feitos atendimentos de saúde aos indígenas doentes. Esses atendimentos ocorrem dentro do território, com equipes que atuam no polo de Surucucu, no Hospital de Campanha, em Boa Vista, e também nos hospitais públicos infantil e adulto, quando os casos se agravam.


Fonte: g1/RR

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