A operação está sendo realizada na aldeia Arakaça, na Região do Waikás, em Roraima
Uma força-tarefa envolvendo a Polícia Federal, Ministério Público Federal (MPF), Fundação Nacional do Índio (Funai) e Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), com o apoio do Exército e da Força Aérea brasileira, apura a denúncia de estupro e morte de mulheres e crianças indígenas na aldeia Arakaça, na Região do Waikás, em Roraima, conforme narrado em ofício encaminhado pelo Conselho Distrital de Saúde Indígena. Os crimes teriam sido cometidos por garimpeiros que invadiram as terras indígenas para explorar ilegalmente minério na reserva Yanomami.
A ação começou na quarta-feira (27/4). Segundo a PF, após
extensas diligências e levantamentos de informações com indígenas da
comunidade, até agora não foram encontrados indícios da prática dos crimes de
homicídio e estupro ou de óbito por afogamento, conforme narrados na denúncia feita
pelo Conselho Distrital Indígena. Ainda segundo a PF, as equipes estão em
diligência em busca de maiores esclarecimentos.
“As instituições reafirmam o comprometimento no cumprimento
de suas atribuições e ressalta que todas as denúncias recebidas são devidamente
apuradas”, diz a PF.
Entenda o caso- O
presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kuana
(Condisi-YY), Júnior Hekurari Yanomami, denunciou que uma menina de 12 anos
morreu após ser estuprada por garimpeiros. Vítima era da comunidade Aracaçá, na
região de Waikás, uma das mais atingidas pelo garimpo ilegal na Terra Yanomami.
A informação foi divulgada na noite de segunda-feira (25/4).
Em um vídeo divulgado nas redes sociais, Hekurari afirma que, além da morte da
menina, uma outra criança Yanomami, de cerca de 3 anos, desapareceu após cair
no rio Uraricoera.
"A adolescente estava sozinha na comunidade e os
garimpeiros chegaram, atacaram e levaram ela para as barracas deles. A tia dela
defendeu [a sobrinha]. Quando estava defendendo, os garimpeiros empurram ela em
direção ao rio junto com a criança. Essa criança se soltou no meio do rio, acho
que estava em um barco. Eles invadiram e levaram [a menina] para o barraco dos
garimpeiros e a violentaram brutalmente, estupraram essa adolescente. Moradores
de lá me disseram que ela morreu. Então, é muito triste, muito triste
mesmo", relatou Júnior Hekurari, que também é uma liderança Yanomami.
Hekurari disse ainda que há a suspeita que os garimpeiros
estivessem armados. A comunidade Aracaçá está localizada no meio de
acampamentos montados por garimpeiros na região. A violência sexual contra
meninas e mulheres Yanomami cometida por garimpeiros já havia sido denunciada
semana passada pela Hutukara Associação Yanomami.
Região de Waikás
A região de Waikás, onde fica a comunidade Aracaçá, foi a
que teve o maior avanço de exploração de garimpeiros, de acordo com o relatório
"Yanomami sob ataque", divulgado pela Hutukara Associação Yanomami
(HAY). Lá, a devastação foi 296,18 hectares - 25% em um ano.
"Quase a metade da área degradada está concentrada em
Waikás", cita o relatório.
Terra Yanomami
Maior reserva indígena do Brasil, a Terra Yanomami tem quase
10 milhões de hectares entre os estados de Roraima e Amazonas, e parte da
Venezuela. Cerca de 30 mil indígenas vivem na região em mais de 360
comunidades.
A área é alvo do garimpo ilegal de ouro desde a década de
1980. Mas, nos últimos anos, essa busca pelo minério se intensificou, causando
além de conflitos armados, a degradação da floresta e ameaça a saúde dos
indígenas.
A invasão garimpeira causa a contaminação dos rios e
degradação da floresta, o que reflete na saúde dos ianomâmi, principalmente
crianças, que enfrentam a desnutrição por conta do escasseamento dos alimentos.
Nota do MPF sobre a
denúncia do estupro e morte
“O MPF busca junto às instituições competentes a apuração do
caso e acredita que situações como essa são consequência cada vez mais
frequente do garimpo ilegal em terras indígenas em Roraima. Como forma de
evitar novas tragédias como as que vêm ocorrendo, o MPF já acionou a Justiça e
se reúne rotineiramente com instituições envolvidas na proteção do território
indígena para que se concretizem medidas de combate sistêmico ao garimpo. Entre
essas medidas, estão a retomada de operações de fiscalização, construção de
bases de proteção etnoambiental e mudanças nos procedimentos adotados por
órgãos fiscalizadores”.
Por Tina DeBord
Foto: PF
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