Sergio Moro, Alessandro Vieira e Rodrigo Pacheco não estão mais na corrida à Presidência da República
Ao longo de
março, três pré-candidatos da chamada “terceira via” desistiram de concorrer à
Presidência da República: Sergio Moro, Alessandro Vieira e Rodrigo Pacheco.
Nesta
quinta-feira (31), quando trocou o Podemos pelo União Brasil, o ex-juiz da Lava
Jato se tornou ex-candidato ao Planalto, pelo menos “neste momento”.
“A troca de
legenda foi comunicada à direção do Podemos, a quem agradeço todo o apoio. Para
ingressar no novo partido, abro mão, neste momento, da pré-candidatura
presidencial e serei um soldado da democracia para recuperar o sonho de um
Brasil melhor”, afirmou Moro.
A presidente
do Podemos, deputada federal Renata Abreu, declarou que a cúpula de seu partido
soube da saída do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública pela imprensa. “Para
a surpresa de todos, tanto a Executiva Nacional quanto os parlamentares
souberam via imprensa da nova filiação de Moro, sem sequer uma comunicação
interna do ex-presidenciável”, diz a nota assinada por Abreu.
No
comunicado, Abreu ainda cita que o Podemos “não tem a grandeza financeira
daqueles que detém os maiores fundos partidários”, mas pontua que o partido deu
todas as garantias de recursos para a campanha eleitoral do ex-juiz, assim como
“jamais mediu esforços para garantir ao presidenciável uma pré-campanha
robusta”.
O cientista
político e diretor da Quaest, Felipe Nunes, ilustra que 30% dos entrevistados
nas pesquisas eleitorais não querem nem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva (PT) e nem o presidente Jair Bolsonaro (PL), mas que Moro não conseguiu
ser o candidato dessa parcela.
“Eu gosto de
dizer sempre que o Brasil tem hoje nas pesquisas aproximadamente 40% que
gostariam de ver a vitória do ex-presidente Lula, 30% que querem ver a vitória
do presidente Bolsonaro e 30% que não quer um candidato nem Bolsonaro e nem
Lula. Essa demanda embora seja grande, 30% é um contingente eleitoral
considerável, nunca encontrou uma oferta real, nem o Moro conseguiu ser isso”,
expõe Nunes.
Para o
cientista político da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Fernando Abrucio, a
candidatura de Moro foi sepultada. “Ele percebeu que teria dificuldades de
levar essa candidatura pelo Podemos, que não teria muitos recursos e palanques
estaduais. Isso é muito importante para a eleição presidencial.”
Abrucio
pontua que a escolha do ex-juiz pelo União Brasil foi feita em um segundo
momento, por ser uma legenda com maior tempo de televisão e recursos
financeiros para a campanha.
“Nesse
sentido, o União Brasil é uma escolha muito racional para ele. Acho que até
terá dobradinha entre ele e a esposa [Rosângela Moro] um para deputado estadual
e outro para deputado federal. Para o União Brasil é bom porque é provável que
o Moro tenha uma grande votação e puxe outros deputados.”
“Para o Podemos é uma situação muito ruim, que cria uma ‘pecha’ para o Moro de alguém não sabe lidar com os políticos. Quando houve o boato que ele mudaria de partido, o ACM Neto e uma série de deputados do União Brasil fizeram uma carta dizendo: ‘tudo bem, mas para presidente não’. Ele tem uma imagem muito ruim com os políticos. E se ele quiser continuar com a política e quiser ficar quatro anos lá em Brasília, na Câmara Federal, vai ter que mudar o estilo”, continua Abrucio.
Segundo
Felipe Nunes, o começo da candidatura de Moro empolgou as lideranças políticas
que sempre buscaram a opção de uma terceira via real, mas que no fim não se
mostrou assim.
“Ele era que
era tido por muitos que conseguiria enfrentar Lula e Bolsonaro, justamente
porque ele teria enfrentado os dois de maneira diferente. O que as pesquisas
mostram e o cenário político hoje confirmou é o contrário. O Moro não conseguiu
ampliar seu contingente eleitoral na terceira via e continuou com alta rejeição
entre bolsonaristas e lulista, que são maioria e, portanto, ele ficou menor
nesse cenário”, conclui.
De acordo
com cientista político Rafael Cortez, o movimento de Moro pode ser considerado
um revés. “A própria trajetória mais recente do ex-juiz é de muita polêmica. A
entrada no governo Bolsonaro também o desgastou politicamente. Olhando do ponto
de vista do cenário presidencial é uma derrota. Eventualmente vai procurar um
outro cargo para disputa, mas olhando para o papel que ele poderia ter na
política nacional não se confirmou.”
Cortez
elucida que um projeto para a Presidência não é construído um ano antes do
pleito. “Ele demanda muita articulação política, tempo, demanda construção substantiva.
Aparecer para o eleitorado de uma maneira a responder aqueles temas mais
urgentes”.
“Se a gente
pega a trajetória do ex-juiz nada aponta nessa direção. Muito ao contrário. A
imagem e o capital político que ele construiu é na verdade em contraposição a
essa política tradicional, muito associado a uma ideia de combate à corrupção
mas mesmo nessa ideia já vem desgastada”, finaliza.
Para quem vão os votos de Moro?
Na opinião
de Felipe Nunes, o presidente Jair Bolsonaro é o maior beneficiado com a retirada
da candidatura de Sergio Moro.
Nunes
explica que isso deve ser representado pelos eleitores que nunca deixaram de
ser bolsonaristas. Eles se sentiram insatisfeitos, procuraram uma terceira via
e agora com a saída de Moro, devem voltar de maneira significativa para o atual
chefe do Executivo.
“A segunda
opção para quem votava em Moro é o Bolsonaro. Depois você tem um contingente de
pessoas que diz que se o Moro não participar não vai votar em ninguém e outro
contingente menor que vai se desfazendo em outros nomes, da Simone Tebet e do
Ciro Gomes até mesmo o ex-presidente Lula”, indica Felipe Nunes.
Já para
Fernando Abrucio, a senadora Simone Tebet (MDB) é quem deve se beneficiar mais,
por ter um perfil de quem rejeita Bolsonaro: sendo mulher, sabendo falar sobre
economia e do cotidiano, diferentemente dos outros candidatos.
“Porque ela
está fora dessa briga toda, tem um partido que lhe dá uma guarita maior que o
partido dos outros e tem o perfil mais próximo dessa eleição do que os outros.
Porque eles estão fazendo um discurso da eleição de 2018. A eleição de 2022 é
plebiscitária em relação ao Bolsonaro. Um quarto da população vai com o
Bolsonaro até o mar se for preciso. Mas 63% da população diz que não vota no
Bolsonaro de jeito nenhum”, justifica Abrucio.
Felipe
Cortez, por sua vez, exemplifica haver semelhanças entre os eleitores de
Bolsonaro e de Moro, com uma parcela desse público indo para a campanha de
reeleição do presidente e outra para os demais candidatos da terceira via.
“Uma parcela
desse eleitorado vai migrar para a campanha bolsonarista. Eles têm um perfil
muito parecido de discurso. De alguma emergiram para o cenário nacional no
mesmo contexto. Uma parte desse eleitorado vai ajudar essa retomada de intenção
de voto da campanha bolsonarista. Mas naturalmente, tem uma parcela desse
eleitor do Moro que eventualmente pode migrar para essa terceira via que possa
ser articulada nos próximos meses”, comenta Cortez.
Desistência de outros candidatos
No início do
mês, o presidente do Senado e então pré-candidato Rodrigo Pacheco (PSD)
anunciou a desistência do projeto presidencial. “Tenho que me dedicar a
conduzir o Senado para a tão desejada recuperação e reconstrução desse país”,
disse Pacheco em anúncio do plenário da Casa que lidera no último dia 9 de
março.
Três dias
depois o também senador Alessandro Vieira (PSDB) anunciou sua desfiliação ao
Cidadania e, no dia seguinte, confirmou o abandono da pré-candidatura. “Não
existe nenhuma possibilidade de permanência na disputa pela Presidência da
República, isso já é passado nessa trajetória política que eu venho exercendo”,
assegurou.
Conheça os pré-candidatos
A terceira
via tenta furar a polarização entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líder nas
pesquisas eleitorais, e o Presidente Jair Bolsonaro (PL), isolado em segundo
lugar.
Seguem no
páreo o ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT), a senadora Simone Tebet (MDB),
o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), Luiz Felipe d’Ávila (Novo), o
deputado federal André Janones (Avante), Leonardo Péricles (UP) e Vera Lúcia
(PSTU).
Fonte: CNN
Foto:
Reprodução CNN
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