O menor foi novamente apreendido na manhã deste sábado (28/1). Ele tinha sido liberado, porque foi apreendido após o flagrante e não havia, ainda, mandado de internação contra ele. A Polícia Civil aguarda laudo para saber se houve violências sexual contras as mulheres mantidas em cativeiro pelos criminosos
Uma questão que pode ser apurada, revelou o delegado Ricardo Viana, da 6ªDP, é se, durante os 18 dias de cárcere, foi praticado algum tipo de violência sexual contra as mulheres. Sobretudo, contra Renata Juliene Belchior, de 52 anos, e Gabriela Belchior de Oliveira, de 25, mulher e filha de Marcos Antônio Lopes de Oliveira, de 54 anos – principal alvo dos criminosos por conta do terreno de sua chácara avaliada em R$ 2 milhões.
Elas ficaram mais tempo sob o poder dos sequestradores. Viram do cativeiro a chegada do Ano Novo.
– É uma questão que nos intriga, até pelos corpos terem sido incinerados. Temos três corpos que ainda estão passando por exames. Pelo estado que estavam, não sei se a perícia vai conseguir apurar algo nesse sentido. O que posso dizer é que Gabriela e a Renata ficaram 18 dias na posse dessas pessoas. Cláudia e Ana Beatriz, 14 dias. E eram quatro homens, alguns deles com passado bem voltado para a prática criminosa. Há suspeita, mas não temos a resposta sobre isso, e não sei se o laudo vai alcançar isso. Todos foram questionados (se foi praticada algum tipo de violência sexual) e eles negaram – disse o delegado, que conduz as investigações no DF.
Renata e Gabriela tiveram os corpos queimados dentro do carro da família, abandonado em chamas em Unaí (MG), o que dificulta qualquer perícia. O fato de não ter sido encontrada fuligem em suas vias nasais indica que já haviam sido assassinadas antes de o veículo ser incinerado. Os corpos de Cláudia Regina Marques de Oliveira, de 55 anos, e sua filha, Ana Beatriz Marques de Oliveira, de 19, foram achados em estágio avançado de decomposição no interior de uma fossa, o que torna o trabalho dos policiais forenses igualmente complexo.
Cláudia era ex-companheira de Marco Antônio e Ana Beatriz, que era conhecida como Bia, filha deles.
Os cinco presos envolvidos no assassinato brutal da família são Horácio Carlos Ferreira Barbosa, de 49 anos, Gideon Batista de Menezes, de 55 (principais mentores intelectuais e executores), Fabrício Silva Canhedo, de 34, Carlomam dos Santos Nogueira, vulgo "Carlinhos", de 26 e Carlos Henrique Alves da Silva, 25, conhecido como "Galego". Se condenados pelos crimes em que foram indiciados até agora, cada um pode pegar pena de até 340 anos de prisão.
Até agora eles foram indiciamentos por homicídio qualificado contra dez pessoas, destruição e ocultação de cadáver, extorsão e corrupção de menor. Os policiais revelaram que Gideon tem em sua ficha criminal uma tentativa de latrocínio.
Há ainda suspeitas, em outra jurisdição, do envolvimento dele no desaparecimento do próprio irmão, que sumiu quando fazia um trajeto entre a Bahia e Brasília, em 2021.
– Ainda é uma incógnita para a família. Sabe-se que ele tinha um dinheiro guardado em sua conta corrente – comentou Viana.
Não foram revelados detalhes de antecedentes criminais dos demais suspeitos, apenas Carlomam teria envolvimento com uma facção criminosa e "Galego" teria ameaçado decapitar uma pessoa na frente da Polícia Militar, para não ser preso. Já Marcos Antônio, vítima do crime, conheceu Gideon e Horácio no período em que esteve preso com eles na Papuda.
A confiança era tamanha que Marcos Antônio deixou que eles, depois saíram da cadeia, morassem em seu terreno, onde conviviam com sua família, que eles depois assassinaram.
Quanto dinheiro foi roubado?
A Polícia Civil também pediu à Justiça a quebra de sigilo de registros telemáticos dos suspeitos e de movimentações bancárias, entre outras informações, e espera obter informações sobre quanto dinheiro exatamente os criminosos conseguiram extorquir das vítimas. Sabe-se apenas que, além do terreno da chácara de posse de Marcos Antônio – que sequer era de propriedade dele no papel –, os bandidos ansiavam também por R$ 200 mil obtidos por Cláudia com a venda de um imóvel e, no cativeiro, obrigaram que os integrantes da família anotassem num caderno seus nomes, saldo de conta bancária, senhas e dados de cartões de crédito.
Eles dizem, no entanto, que tiveram problemas com os bancos digitais e não conseguiram concluir esses roubos.
Caderno onde Ana Beatriz foi obrigada a ceder dados bancários antes de ser morta
Cláudia, por exemplo, foi sequestrada por Carlomam enquanto fazia sua mudança. Ele fingiu que ajudaria no transporte dos móveis e objetos para a nova residência da vítima. Na terceira viagem do caminhão de mudança, ao entrar na casa, Cláudia foi rendida por ele, que disse "estar fugindo da polícia", a imobilizou e levou para o cativeiro em Planaltina.
Mortes
Por não haver fuligem nas vias nasais dos seis corpos encontrados queimados, a perícia pôde afirmar que, certamente, essas vítimas não estavam vivas quando foram carbonizadas, pois não aspiraram a fumaça. Mas, então, como elas teriam sido mortas?
A polícia não sabe se conseguirá solucionar tecnicamente essa questão. Por enquanto, vale a versão dos criminosos, de que as seis pessoas – Renata, Gabriela, Elizamar e os três filhos pequenos, os gêmeos Rafael e Rafaela, de 6 anos, e Gabriel, de 7 – foram mortas asfixiadas.
Adolescente envolvido no crime
O menor de idade, de 17 anos, aliciado por Gideon, Horácio e Carlomam, e que participou do crime, foi apreendido na manhã deste sábado (28/1), em ação da Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA I), após mandado de busca e apreensão expedido pela Vara da Infância e Juventude do Distrito (VIJDF).
Ele está sendo ouvido na especializada e há expectativa de que o depoimento revele ainda novos detalhes da trama criminosa. Em seguida, será encaminhado a um internato do Núcleo de Atendimento Integrado do DF.
De acordo com a delegacia, foi imputada a ele responsabilidade pela prática dos atos infracionais análogos aos crimes de extorsão mediante sequestro com restrição a liberdade e resultado morte das vítimas Marcos Antônio Lopes de Oliveira, Renata Juliene Belchior e Gabriela Belchior de Oliveira, ocultação do cadáver da vítima Marcos Antônio Lopes de Oliveira e associação criminosa armada com os imputáveis envolvidos na chacina.
Cronologia do crime
O inquérito apurou que, em 23 de outubro, os bandidos alugaram o cativeiro onde iriam manter as vítimas.
Em 28 de dezembro, o plano começou a ser executado na própria chácara, quando Marcos, sua esposa Renata Juliete Belchior, de 52 anos, e a filha deles, Gabriela Belchior de Oliveira, de 25, foram rendidos.
No mesmo dia, Gideon deu acesso a chácara a Carloman e a um adolescente, com a intenção de simularem um roubo à família. Horácio estava no local e fingiu-se de vítima. No entanto, Marcus reagiu e foi atingido com um tiro na nuca por Carloman.
Ele foi enrolado em um tapete pelos criminosos e levado para o cativeiro junto com a mulher e a filha. Lá ele foi decapitado, esquartejado e enterrado em uma cova rasa.
Assustado ao ver o que fizeram com Marcos e temendo ter o mesmo destino, o adolescente pulou o muro da casa durante a madrugada e fugiu do local. Em 4 de janeiro, os criminosos levaram Cláudia e a filha dela, Ana Beatriz Marques de Oliveira, também para o cativeiro.
Cláudia havia vendido uma casa no valor de R$ 200 mil que também virou objeto de cobiça por parte do grupo, que simulou, com o celular de Marcos, que Gideon, Horácio e Fabrício a ajudariam na mudança. Ao entrarem no local, foram rendidas e levadas para dois cômodos.
No dia 12, Thiago Gabriel Belchior, marido da cabeleireira Elizamar da Silva, recebeu um bilhete o atraindo com a mulher e os três filhos do casal até a chácara. De lá, eles levaram Elizamar e os filhos até Cristalina, em Goiás, onde asfixiaram as vítimas e queimaram o carro com os corpos dentro.
Em 14 de janeiro, Renata e Gabriela foram mortas em Unaí, Minas Gerais, e tiveram o carro queimado por Horácio e Gideon. No dia seguinte, Thiago, Cláudia e Ana saíram do cativeiro com vida, mas acabaram sendo esfaqueados pelos criminosos e tiveram os corpos jogados e enterrados em uma cisterna em Planaltina, Região Administrativa do Distrito Federal.
Fonte: O GLOBO
Fotos: PCDF/Reprodução NNC
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