PREOCUPAÇÃO| Peixes mortos e águas turvas deixam indígenas sem alimento no Rio Mapuera; MPF pediu medidas de emergência
Grande quantidade de sedimentos mudou a coloração das águas do rio, em Oriximiná, noroeste do Pará. MRN e Secretaria de Meio Ambiente do município dizem que mudança na coloração da água foi por deslizamento de terra
Oriximiná/PA- Na tarde do último sábado (28/5), indígenas moradores do Rio
Mapuera, na região noroeste do Pará, se assustaram ao perceber grande
quantidade de sedimentos poluindo o rio, mudando a coloração das águas e
matando peixes – vários foram encontrados mortos pelos moradores. Ainda não se
sabe a origem da poluição, mas o Ministério Público Federal (MPF) requisitou
medidas emergenciais tanto para investigar a fonte quanto para garantir
alimentação e água potável para os cerca de dois mil indígenas que vivem na
região.
O MPF emitiu ofício para autoridades federais, estaduais e
municipais pedindo medidas emergenciais para assegurar acesso à alimentação e
água potável para os indígenas e também investigações aprofundadas sobre a
origem do problema. “Há indícios de atividade ilegal de garimpo de ouro na
região do alto Rio Mapuera e seus respectivos afluentes, em áreas limítrofes à
Estação Ecológica do Grão-Pará, por isso a elevada preocupação acerca da
toxicidade das águas”, diz o documento.
“Para além da questão ambiental, os indígenas dependem do
rio para o consumo de água e para a alimentação diária, em grande parte à base
de peixes. Hoje [domingo (29/5)], foram registradas imagens de peixes mortos, o
que afeta severamente a segurança alimentar e nutricional dos povos que
dependem desse recurso natural para a sobrevivência”, diz o ofício enviado pelo
MPF.
Relatos indígenas
– Por meio de mensagens durante o fim de semana, os indígenas relataram os
problemas provocados pela poluição. “Já tá aumentando muito, aumentando muito
mesmo. Os parentes não tomaram água do rio. Estão tomando do igarapé e não
comeram nada hoje lá. Aa água vem suja”, disse uma liderança em mensagem de
áudio.
Os próprios indígenas iniciaram a investigação sobre a
poluição e conseguiram localizar a fonte dos sedimentos no Rio Jauari,
tributário do Mapuera, que tem suas nascentes dentro da Estação Ecológica do
Grão-Pará, uma unidade de conservação administrada pelo estado do Pará, onde há
suspeita da atuação de garimpeiros ilegais. Lideranças dos povos que vivem na
região já relataram ao MPF terem visto helicópteros transitando nessa área.
O MPF alertou as autoridades que, pelo desenho natural do
Rio Mapuera, a poluição está descendo em direção ao Rio Trombetas e pode
afetar, dentro de poucos dias, comunidades ribeirinhas e quilombolas, além de
outras duas Unidades de Conservação: Reserva Biológica do Rio Trombetas e a
Floresta Nacional Saracá-Taquera. No caso dessas duas unidades de conservação,
o órgão gestor é o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
(ICMBio).
A região dos rios Mapuera, Trombetas, Cachorro e Turuni
abriga três terras indígenas: Trombetas-Mapuera, Nhamundá-Mapuera e
Kaxuyana-Tunayana, em um grande território conhecido como Wayamu, onde vivem
grupos de vários povos, entre eles Wai Wai, Tirió, Kaxuyana e Tunayana. Nas
vizinhanças da área indígena existem oito comunidades quilombolas e outras
ribeirinhas nas margens do Trombetas, também ameaçadas pela poluição.
Ações urgentes – Para o MPF, a situação exige ações urgentes
do poder público. Foram pedidas providências à Fundação Nacional do Índio
(Funai) para que assegure o fornecimento de água e alimento, enquanto o rio
estiver poluído; ao Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei), foram
requisitadas medidas para proteger a saúde dos moradores. Também foi solicitado
o apoio da prefeitura de Oriximiná, à Defesa Civil do Estado do Pará e à
gerência do ICMBio, que apoiem o fornecimento de água e alimentação enquanto
durar a situação emergencial.
O MPF pediu ainda que a Polícia Federal (PF) inicie um
inquérito policial para verificar a existência de garimpos ilegais na região.
Foram pedidas informações da Frente de Proteção Etnoambiental Cuminapanema,
ligada à Funai, e ao Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade
do Estado do Pará (Ideflor-Bio), sobre o funcionamento de garimpos ilegais.
O MPF pediu também ao ICMBio e ao Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente (Ibama) que façam sobrevoo na região para tentar identificar o
ponto de origem dos sedimentos que mudaram a cor das águas. Para a Secretaria
Municipal de Meio Ambiente e Mineração de Oriximiná e para a Universidade
Federal do Oeste do Pará (Ufopa) o pedido é para que realizem coleta de
amostras das águas dos rios Mapuera e Jauari para posterior análise.
Em sobrevoo de helicóptero, técnicos da Mineração Rio do
Norte e o secretário de Meio Ambiente de Oriximiná alegaram que a contaminação se
deve a um deslizamento de terra.
Fonte: MPF
Foto: Divulgação
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